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Transtorno de ansiedade - uma visão junguiana

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Retornar à trajetória clínica, procurar pelos discursos das vidas que acompanhei e acompanho, e ouvir o que o sintoma queria de mim, como pessoa que viveu com episódios de crises de ansiedade, sendo também eu uma porta voz do sofrer, ou melhor, da alma, foram caminhos encontrados para dar corpo e material simbólico a construção do conteúdo do texto.


Acompanhando as imagens que transitam, procuro escrever sobre elas. Esbarro, logo no início, em perguntas que chegam quando a porta do consultório se abre, ou quando aceito o convite de reunião para que o paciente entre na sala online:


“ O que está acontecendo comigo?”

“ Por que eu estou me sentindo assim?”

" Me ajuda a não me sentir assim, estou enlouquecendo"

" Eu não sou assim!”


São essas e outras palavras de aflição, com choro e desespero no olhar, que invadem o espaço terapêutico.


Observando a névoa das imagens, suas falas, dores, personagens e cenários, às vezes com os olhos fechados, outras vezes abertos, tantas outras sentindo o vento que entra pela janela e o contorno que o céu oferece, em silêncio barulhento, recebo àqueles que chegam. A casa é sua!


Invasão, desconhecido, desespero, sensação de descontrole, alerta, medo, dúvida sobre si mesmo, ausência de si mesmo, fazem parte da cena que vai sendo construída pelo paciente, e que oferecem o enredo que se desdobra na clínica.


O aprofundamento e a aproximação são propostas clínicas. O trabalho é realizado no ínterim, no discurso onde a palavra falha, na matéria fugida, e no testemunhar daqueles que escutam, na escuridão, o ruído distante do canto. A alma que sofre encontra um espaço onde possa ser considerada.


E agora é minha vez de perguntar:


“ do que você sofre?”

“ quem em você está sofrendo?”


Ao se exteriorizar, ao gritar no escuro, o paciente se examina sobre si mesmo, observa os estranhos particulares, e é nessa tentativa de diálogo, desesperada de conexão e desconexão, que há possibilidade de alívio. Para a psicologia analítica, não há uma razão única e nem uma sequência organizada e lógica, para que as crises de ansiedade se apresentem. Há aqui um ouvido pronto para descer com o paciente em suas histórias, suas fantasias, seus relacionamentos, seus modos de existir, de desistir, de fracassar, de rasurar, de se constranger. Na escuta e na construção dessa malha de narrativas, de porta vergonha, porta palavra, porta sintoma, que o modo de enxergar as imagens transformam o ver através do mais peculiar e estranho em nós mesmo, que se revela e se esconde. A maneira encontrada é começar a cuidar da própria dor.


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Rúben Páscoa
Rúben Páscoa
Nov 16, 2023

Uma polifonia de profundezas emocionais, uma sinfonia de aflições e um tecer com grande simbolismo de momentos de ansiedade. Puras reflexões entrelaçadas de uma terapeuta genuína, perspicaz, mas sobretudo imersa em empatia.

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